terça-feira, 4 de março de 2014

Quanto vale um médico?

“A civilização é o avanço de uma sociedade em direção à privacidade. O selvagem tem uma vida pública, regida pelas leis de sua tribo. Civilização é o processo de libertar o homem dos outros homens.”
Ayn Rand

“Parei quando a medicina foi colocada sob controle estatal há alguns anos – contou o Dr. Hendricks. – A senhorita imagina o que é preciso saber para operar um cérebro? Sabe o tipo de especialização que isso requer, os anos de dedicação apaixonada, implacável, absoluta para atingi-la? Foi isso que me recusei a colocar à disposição de homens cuja única qualificação para mandar em mim era sua capacidade de vomitar as generalidades fraudulentas graças às quais conseguiram se eleger para cargos que lhes conferem o privilégio de impor sua vontade pela força das armas.
Não deixei que determinassem o objetivo ao qual eu dedicara meus anos de formação, nem as condições sob as quais eu trabalharia, nem a escolha de pacientes, nem o valor de minha remuneração. Observei que, em todas as discussões que precediam a escravização da medicina, tudo se discutia, menos os desejos dos médicos. As pessoas só se preocupavam com o “bem-estar” dos pacientes, sem pensar naqueles que o proporcionavam.
A ideia de que os médicos teriam direitos, desejos e opiniões em relação à questão era considerada egoísta e irrelevante. Não cabe a eles opinar, diziam, e sim apenas “servir”. Que um homem disposto a trabalhar sob compulsão é um irracional perigoso para trabalhar até mesmo num matadouro é coisa que jamais ocorreu àqueles que se propunham a ajudar os doentes tornando a vida impossível para os sãos.
Muitas vezes me espanto diante da presunção com que as pessoas afirmam seu direito de me escravizar, controlar meu trabalho, dobrar minha vontade, violar minha consciência e sufocar minha mente – o que elas vão esperar de mim quando eu as estiver operando? O código moral delas lhes ensinou que vale a pena confiar na virtude de suas vítimas. Pois é essa virtude que eu agora lhes nego.
Que elas descubram o tipo de médico que o sistema delas vai produzir. Que descubram, nas salas de operação e nas enfermarias, que não é seguro confiar suas vidas às mãos de um homem cuja vida elas sufocaram. Não é seguro se ele é o tipo de homem que se ressente disso – e é menos seguro ainda se ele é o tipo de homem que não se ressente.”
O relato exposto é do Dr. Dr. Hendricks, personagem do clássico romance filosófico “A Revolta de Atlas”, principal obra da novelista russa Ayn Rand, nascida Alisa Zinov'yevna Rosenbaum e que em 1926, aos 21 anos, fugiu para os Estados Unidos. Num momento em que se sobrepõe a visão socialista da medicina, colocando os médicos como meros escravos do povo, Ayn Rand se mostra mais atual que nunca com seu personagem explicando porque se uniu aos demais intelectos que entraram em greve, abandonando as pessoas à própria sorte.
Na mitologia grega, o titã Atlas recebe de Zeus o castigo eterno de carregar nos ombros o peso dos céus. Como exposto na resenha da obra de Ayn Rand, os pensadores, os inovadores e os indivíduos criativos suportam o peso de um mundo decadente enquanto são explorados por parasitas que não reconhecem o valor do trabalho e da produtividade e que se valem da corrupção, da mediocridade e da burocracia para impedir o progresso individual e da sociedade.
O conteúdo do livro, agregado em três volumes, preconiza o individualismo filosófico e liberalismo econômico, convicções que a escritora sempre expôs em suas obras. Ensinava Ayn, morta em 1982, que o homem deve definir seus valores e decidir suas ações à luz da razão; que o indivíduo tem direito de viver por amor a si próprio, sem se sacrificar pelos outros e sem esperar que os outros se sacrifiquem por ele; e que ninguém tem o direito de usar força física para tomar dos outros o que lhes é valioso ou de impor suas ideias sobre os outros.
Acho que Ayn Rand nunca foi tão atual e que devemos refletir sobre suas lições.

Publicado na revista Iátrico, nº34 (2014)

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Termografia na Fibromialgia - pela SBR

A Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) tem sido questionada nos últimos meses sobre o uso de da termografia em patologias musculoesqueléticas. Após várias reuniões virtuais (via Skype), a Comissão de Dor, Fibromialgia e Reumatismo de Partes Moles da SBR resolveu emitir parecer sobre o assunto.

Abaixo, o resumo do parecer após análise de vários artigos científicos:

1.      Não há nenhuma evidência científica realmente válida sobre o assunto;

2.      Praticamente todos os trabalhos foram feitos pelo mesmo grupo, não havendo universalização do exame – difícil comprovação?

3.      A necessidade de um ambiente extremamente controlado dificulta o exame.  Poderia haver interferência grave no resultado quando feito por outro profissional?

4.      A questão pericial que vem sendo levantado nas questões feitas por leigos poderia estar influenciando na “legalização” do exame como diagnóstico, quando na verdade ele é apenas complementar?

5.      Nenhum artigo da bibliografia coloca a termografia como definitiva para diagnóstico, exceto para dor miofascial, mas não para síndrome da fibromialgia.

6.      O parecer do CRM.PR corrobora estes questionamentos.

Talvez os nossos maiores problemas sejam o fato de haver um código específico da tabela AMB para termografia (indica sua validação para o leigo) e a “venda” pela internet da ideia de um diagnóstico com valor legal para perícia.

CONCLUSÃO:
A Comissão de Dor, Fibromialgia e Reumatismo de Partes Moles da SBR não aceita o exame complementar TERMOGRAFIA como diagnóstico definitivo para Síndrome da Fibromialgia, até que sejam demonstradas evidências científicas fortes e realmente válidas.

Para mais informações e para ver o texto completo do parecer, acesse o site oficial da SBR: http://www.reumatologia.com.br

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Por quê corredores não tem artrose de joelhos?

Já comentado anteriormente nesse blog, muitos acreditam que caminhadas e corridas podem desgastar os joelhos, antecedendo ou agravando uma artrose nessa articulação – esse conceito atrapalha (e muito) a condução terapêutica de pacientes que sofrem com dor nesse local. Para o bem de todos, dois novos estudos, publicados na revista Medicine & Science in Sports & Exercise, reafirmam que essa ideia é um mito, e, melhor ainda, que a corrida pode ainda proteger as articulações dos quadris. Um dos estudos, com quase 75 mil corredores, não encontrou evidência de que a corrida aumenta o risco de artrose, mesmo em quem participa de maratonas. Noutro, intitulado "Por quê a maioria dos corredores não tem artrose dos joelhos?", pesquisadores compararam a corrida com a caminhada, verificando que a sobrecarga articular em ambas as situações se equivalem. A má notícia é que nem só de artrose sofrem os joelhos: lesões ligamentares e desajuste patelofemural (chamado “joelho do corredor”) podem ser mais frequentes com a prática da corrida.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Anti-inflamatórios e risco de Infarto do Miocárdio - alerta no EULAR

Um número alarmante de pacientes com doença cardíaca isquêmica ou fatores de risco cardiovasculares estão sendo inadequadamente medicados com anti-inflamatórios não-esteróides (AINEs), exs: diclofenaco, nimesulida, ibuprofeno, naproxeno, meloxicam, piroxicam, aceclofenaco, toragesic, etc. No Congresso da Liga Europeia Contra o Reumatismo (EULAR) 2013, Dr. Orr disse que as prescrições de AINEs estão fora de controle. Os riscos cardiovasculares do seu uso a longo prazo são bem conhecido (Circulation, 2011; 123:2226-2235 ), mas mesmo o uso a curto prazo aumenta o risco de infarto do miocárdio recorrente e morte, explicou. Seu novo estudo incluiu mais de 10.000 pacientes com mais de 50 anos, e entre os pacientes com doença cardíaca isquêmica ou fatores de risco cardiovasculares, mais da metade,  foram medicados com AINEs por um mês ou mais. "Achamos que é desconcertante que o diclofenaco foi indicado em 56% dos casos e sugerimos que recomendações para mudar para alternativas (analgésicos) mais seguras são um componente crítico para qualquer guideline médico", concluiu o Dr. Orr.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Semana Mundial da Espondilite Ancilosante

A Espondilite Ancilosante é uma doença que causa dor nas costas e pode afetar as articulações e os tendões, sendo mais prevalente em homens e iniciando-se geralmente entre os 20 e 30 anos de idade. Embora ainda não exista prevenção e cura, pois é uma doença genética, o tratamento pode melhorar em muito a dor desses pacientes, além de retardar as deformidades que acontecem na coluna e articulações. Mas como saber se uma simples dor nas costas pode ser uma doença tão séria como essa? A principal diferença entre uma dor nas costas comum e a dor nas costas da Espondilite Ancilosante, é que nesta a dor é pior pela manhã, gerando uma sensação de “travamento” na coluna, por mais de 30 minutos após acordar. Conforme a pessoa vai movimentando-se, vai melhorando das dores, e não melhora com o repouso. Se essa dor ocorrer por mais de 3 meses, esse paciente deve ser investigado para essa doença, de preferência por um médico reumatologista. Se você conhece alguém com esses sintomas, alerte sobre essa possibilidade para evitarmos maiores sequelas. Para mais informações, vide barra lateral direita desse Blog.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Dor crônica e alterações do Sono


Pessoas com dor crônica geralmente tem mais um problema pra resolver: alteração do sono. Invariavelmente, quem passa o dia com dores fica com o corpo mais tenso e consequentemente tem dificuldades para relaxar. Consequentemente torna-se difícil de iniciar o sono, ocorre despertares frequentes, e principalmente cansaço pela manhã. Alguns pacientes até acreditam que dormem bem, mas acordam indispostos e passam o dia bocejando. Algumas medidas simples podem ajudar a corrigir esse problema, são as chamadas medidas de higiene do sono:
1 - Durma sempre no mesmo horário.
2- Evite trabalhar, estudar ou assistir TV no quarto. O quarto deve ser bem ventilado, com pouca luz e silencioso.
3- Tente relaxar na última hora antes de dormir, evitando situações de stress ou atividades que exijam muita concentração. Um banho quente pode ser uma boa opção para ajudar a relaxar.
4- Evite ingestão de bebidas alcoólicas, café, chá, chocolate ou fumar após as 17h
5- Faça refeições leves à noite, priorizando as saladas. Evite alimentos muito gordurosos.
6- Exercícios físicos, em especial os aeróbicos, melhoram a qualidade do sono; mas devem ser realizados pela manhã ao no final da tarde. Exercícios à noite podem atrapalhar o sono.
7- Evite dormir durante o dia. É tolerável uma cochilada de até 15 minutos após o almoço.
8- Não permaneça na cama se não está com sono. Se deitar e não conseguir dormir em até 30 minutos, levante e pegue algo para ler.
9- Não tome remédios sem a orientação médica. Medicamentos frequentemente utilizados pra dormir são os benzodiazepínicos (conhecidos como “faixa preta”), que facilmente podem gerar dependência.
Espero que essas dicas ajudem. E durma bem!

terça-feira, 30 de outubro de 2012

30 de Outubro: Dia Nacional da Luta contra o Reumatismo

A palavra “reumatismo” foi criada há muito tempo, quando imaginava-se que as dores no corpo eram causadas por um desequilíbrio dos “líquidos corporais”. Hoje em dia conhecemos melhor as diversas condições que causam dores, e existem mais de cem doenças reumatológicas: artrite, artrose, gota, fibromialgia, bursite, lúpus, dores musculares crônicas, etc. Infelizmente essas doenças podem facilmente ser confundidas entre si: dor nos punhos, por exemplo, pode ser uma simples tendinite, ou uma manifestação inicial de uma doença potencialmente mais grave, como a artrite reumatóide. E são essas mais graves que devemos identificar o mais rápido possível, para trata-las e evitarmos danos articulares permanentes. O dia de hoje é um alerta à população em relação a essas doenças; pois um diagnóstico correto e tratamento precoce dão a esses pacientes uma vida com melhor qualidade.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

O quê são Tendinites e Bursites

Tendinite é uma inflamação do tendão - estrutura fibrosa que une o músculo ao osso, responsável pela transmissão da tração. Bursite é uma inflamação da bursa, uma pequena bolsa que atua como uma almofada protetora entre as estruturas em movimento (ossos, músculos, tendões). Essas inflamações podem ser causadas por uma lesão súbita (como ocorre após um trauma maior), mas na maioria das vezes é o resultado de lesões pequenas e repetitivas (microtraumas). Por exemplo, um homem sedentário de meia-idade, que passa horas pintando um teto, pode desenvolver uma tendinite ou bursite no ombro. Um digitador, que passa longas horas trabalhando em um teclado com as mãos e punhos mal posicionados, pode desenvolver uma tendinite. Bursite pode ocorrer nos joelhos de uma dona-de-casa que resolveu enceirar o assoalho ajoelhando-se por tempo prolongado. Menos frequentemente, outras causas como uma infecção ou depósito de microcristais podem ocorrer nas bursas ou nos tendões. Para o tratamento, é fundamental o repouso do local acometido; o uso de talas ou braçadeiras pode ser útil. Os anti-inflamatórios podem auxiliar no alívio da dor; e, em alguns casos, medicação no local pode ser necessária, através de uma infiltração. Mas ainda, e mais importante, é evitar a atitude causadora da inflamação!


quinta-feira, 28 de junho de 2012

Dor crônica: o quê é e como é tratada?

Diferentemente da dor aguda (que é um alerta ao corpo de que algo está errado, e geralmente desaparece quando o corpo se recupera), a dor crônica ocorre por mais de 3 meses, mesmo após o corpo estar curado. É como se o sistema de alerta desregulasse! E juntamente com o desconforto e a angústia de não saber o que está acontecendo, a dor crônica pode causar baixa autoestima, alteração do sono, depressão, além de interferir com as atividades diárias, trabalho e relacionamentos. O tratamento da dor crônica geralmente envolve medicamentos de diferentes classes como analgésicos, antidepressivos e anticonvulsivantes; e são usados de acordo com a situação de cada paciente. Uma abordagem multidisciplinar muitas vezes é necessária: Fisioterapia para alongamento e relaxamento; Terapia Ocupacional para ensinar a executar tarefas de forma diferente, sem dores; Terapia Cognitiva Comportamental para alterar fatores psicossociais predisponentes, desencadeadores e mantenedores da dor. E principalmente exercícios aeróbicos de baixo impacto (como caminhar, nadar ou andar de bicicleta) devem ser realizados, pois podem ajudar a reduzir a dor, melhorando a sensibilidade corporal. Mudanças no estilo de vida também são parte importante do tratamento, como obter um sono regular e reparador, e parar de fumar (a nicotina pode diminuir a eficácia de alguns medicamentos). Dificilmente conseguimos eliminar 100% a dor! Em vez disso, o objetivo deve ser reduzir a intensidade e a frequência das crises, possibilitando que o paciente retorne a suas atividades cotidianas sem maiores prejuízos.
 

domingo, 10 de junho de 2012

O cigarro nas doenças reumáticas

A prevalência do tabagismo na Brasil é de 17,2% da população, contando com um total de 24,6 milhões de pessoas (60% homens), segundo pesquisa realizada em 2008 (PETab). A conscientização dos males do cigarro aumentou muito nos últimos anos, principalmente os problemas pulmonares e cardíacos. Mas qual o impacto nas doenças reumatológicas? Na artrite reumatóide (AR), o papel do fumo está bastante estabelecido: não apenas aumenta o risco de sua incidência, como também aumenta a gravidade e dificulta o seu tratamento. Mais recentemente, o tabaco também tem sido relacionado com aumento de Artrite Psoriásica (relacionada à psoríase) e também de Espondilite Ancilosante. Sabe-se ainda, que o mecanismo inflamatório dessas doenças por si só também aumentam o risco cardiovascular desses pacientes. Por exemplo, pacientes com AR morrem mais de problemas cardíacos quando comparados com pessoas sem a doença. Assimiladas as informações acima, está cada vez mais claro o quão prejudicial é o tabagismo para esses pacientes: não apenas aumenta o risco e a gravidade da enfermidade reumatológica, como também multiplica o risco de infarto e outros acidentes vasculares. O papel do reumatologista é informar seus pacientes, identificar e tratar fatores de risco associados, e encorajar os fumantes a abandonar o vício, se necessário com o auxílio de medicações.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

O quê é Osteoporose?

Osteoporose é uma doença silenciosa que enfraquece os ossos e aumenta o risco de fraturas. A partir dos 30 anos de idade, a maioria das pessoas começa a perder massa óssea gradualmente, isso devido um desequilíbrio entre a reabsorção e a formação óssea (o osso é mais perdido do que pode ser formado). Se essa perda de massa óssea foi muito intensa, os ossos ficam estruturalmente mais fracos; portanto, quebram mais facilmente. As fraturas mais comuns ocorrem na coluna, punho e quadril, podendo gerar dor, incapacidade e até a morte. O diagnóstico de Osteoporose é feito através da Densitometria Óssea, exame semelhante ao raio X, rápido e indolor, que deve ser realizado em todas as mulheres acima dos 65 anos e em homens acima dos 70 - ou antes disso quando existem fatores de risco associados. Entre eles estão o baixo peso, história familiar de osteoporose ou fraturas, alterações hormonais, tabagismo, abuso de álcool, baixa ingesta de vitamina D e cálcio, sedentarismo, uso crônico de determinados medicamentos, doenças inflamatórias, etc. O reconhecimento dessa doença e seus fatores de risco são importantes não só para o estímulo da prevenção na população, mas também para o tratamento com medicamentos que efetivamente conseguem evitar as temidas fraturas.

domingo, 25 de março de 2012

Gravidez e Artrite Reumatóide

Sabe-se há muito tempo que a gravidez e o parto tem um profundo efeito sobre a atividade das doenças reumáticas, já publicados em 1938. Em pacientes com Artrite Reumatóide (AR), a doença melhora durante a gravidez em 2/3 dos pacientes, podendo piorar no pós-parto. O mecanismo desse fenômeno ainda é incerto, mas entende-se que a produção de anticorpos (defesa) da mulher diminui durante a gravidez, pois exite um feto a ser “tolerado” pelo sistema imune.  Após o parto, esse sistema se reestabelece, o que reflete-se no expressivo aumento na produção de anticorpos. Lembro que são esses mesmos anticorpos que causam a AR. O problema é como controlar essa doença durante a gradidez, se muitos dos medicamentos utilizados podem ser prejudiciais ao feto? Metotrexato e Leflunomida são drogas importantes no combate da artrite, mas contraindicadas na gravidez devido efeitos teratogênicos – devem ser retiradas meses antes da concepção (> 12 meses no caso da leflunomida). Os anti-inflamatórios podem ser usados até 30 semanas de gestação, podendo trazer sérios riscos acima desse período; são considerados seguros durante a amamentação.  A prednisona é considerada segura na gravidez e na lactação; não ultrapassar doses de até 15mg/dia. Deve-se evitar dexametasona e betametasona porque atravessam a barreira placentária trazendo efeitos adversos diretamente ao bebê. A sulfassalazina é considerada segura, apesar de alguns relatos observarem uma maior incidência de defeitos do tubo neural, fissuras orais e defeitos cardiovasculares; minimizados com a suplementação de folato. A hidroxicloroquina também é considerada segura, observação vinda de estudos em mulheres lúpicas que engravidaram usando esse medicamento. Sabe-se do risco aumentado para o feto com o uso da Azatioprina (Aza), mas o risco deve ser ponderado com os possíveis benefícios da droga. Um estudo dinamarquês, incluindo os resultados do parto de 76 gravidas expostas à Aza, mostrou um aumento do risco de parto prematuro e baixo peso ao nascer, mas nenhum aumento significativo de malformações congênitas; estudos recentes  mostram que o aleitamento parece seguro. Os resultados disponíveis sobre os imunobiológicos anti-TNF (infliximabe, adalimumabe e etanercepte) não indicam efeito teratogênico dessas drogas (observados em estudos de reprodução animal), mas dados de segurança em humanos ainda são insuficientes. Portanto, o tratamento de mulheres com AR que desejam engravidar envolve o desafio de manter a doença em remissão utilizando um número limitado de medicações permitidas na gestação e lactação.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

O quê é infiltração?

As infiltrações são procedimentos comuns na reumatologia, sendo útil não só no diagnóstico, mas também no tratamento de diversas doenças articulares e periarticulares (ao redor das articulações). Com uma agulha, líquidos intra-articulares podem ser retirados e analisados, e remédios são colocados diretamente no local acometido, com uma ação mais rápida e mais efetiva do que remédios via oral. Entre as indicações mais comuns estão as artrites, a gota, as tendinites e bursites, as contraturas musculares*, entre outras. Diversas são as técnicas utilizadas para cada local de infiltração, além de variações nos medicamentos utilizados. Atualmente a ultrassonografia tem sido cada vez mais utilizada no auxílio desses procedimentos, principalmente nos locais de acesso mais difícil ou quando há dúvidas no diagnóstico. Infelizmente há muito preconceito com relação às infiltrações, principalmente porque são utilizadas inadequadamente em lesões traumáticas agudas no meio esportivo – frequentemente ouvimos falar de injeções intra-articulares no futebol para que os craques possam continuar jogando, fato que pode causar danos articulares irreparáveis. Resumindo: se indicadas corretamente e aplicadas com a técnica correta, as infiltrações são um procedimento seguro, barato e de ação rápida, sem os efeitos indesejáveis dos comprimidos.

* Algumas contraturas musculares formam nódulos chamados de ponto-gatilho ou "trigger point" – são assim chamados porque causam dor quando apertados, e em alguns casos podem causar dor mesmo em repouso. Essa dor é chamada de Síndrome Miofascial, bastante comum e frequentemente confundida com outras doenças, principalmente porque a dor pode irradiar-se para o braço (quando afeta o músculo trapézio) e para a coxa (quando afeta o músculo glúteo). Uma técnica para melhorar esse quadro doloroso é o "agulhamento", que consiste em desfazer essa contratura muscular inserindo uma agulha na nódulo após anestesia local. Geralmente o local fica mais doloroso após o término do efeito anestésico, mas melhora em dois ou três dias.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O quê é LER / Dort ?

 “Lesões por Esforços Repetitivos” (LER) e “Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho” (Dort) são termos frequentemente usados de maneira inadequada. Antes de tudo, é preciso entender que LER/Dort não corresponde a uma doença específica, muito menos possui um significado técnico com base científica – foram criados pelo Ministério da Saúde e da Previdência Social devido ao grande número de questões trabalhistas decorrentes de um suposto desequilíbrio entre as exigências no trabalho e as capacidades funcionais dos empregados. O esforço repetitivo associado ou não a uma postura ergonomicamente incorreta, desrespeitando os limites físicos e psicossociais do indivíduo, podem causar diversos distúrbios do sistema músculo-esquelético, e gerar sintomas como dor, cansaço, amortecimento, inchaço, etc. Esses distúrbios podem ser inflamatórios, como as tendinites e as bursites; ou não-inflamatórios, como as contraturas musculares e as compressões nervosas. Mas cuidado: sintomas como esses nem sempre são decorrentes do trabalho, e um diagnóstico precipitado pode levar a danos irreversíveis. Problemas hormonais, imunológicos, psiquiátricos, e até mesmo alguma atividade fora do trabalho podem ser as verdadeiras responsáveis. Portanto, para estabelecer um nexo causal entre o trabalho e os sintomas, um médico-perito, de preferência com formação em medicina do trabalho, precisa fazer uma vistoria no local de trabalho, e somente se for confirmada a causalidade é que o termo LER/Dort poderá ser utilizado. Para mais informações, acesse o link da SBR As 10 perguntas essenciais sobre LER/Dort.

domingo, 4 de dezembro de 2011

O quê significa “FAN positivo”?


Diariamente atendemos pacientes preocupados com resultados de exames! Invariavelmente são pessoas com dores no corpo, com algum anticorpo presente, entre os mais comuns estão o Fator Reumatóide (FR), o ASLO (antistreptolisina O) e o FAN (Fator Antinuclear) – exames frequentemente achados positivos em pessoas saudáveis.  Repito que as doenças reumatológicas são diagnosticadas como um quebra-cabeça, onde várias “peças” precisam ser encaixadas para que a doença mostre sua “cara”, sendo que as peças essenciais são os sintomas e sinais clínicos. Portanto, devemos evitar esses anticorpos quando não há uma forte suspeita clínica – e dores no corpo não os justificam!
Reproduzo a seguir alguns trechos do 3º Consenso Brasileiro sobre a pesquisa de FAN, criado justamente para tentar melhor esclarecer médicos e profissionais de saúde sobre esse exame:

A alta frequência de resultados positivos do teste (FAN) em indivíduos saudáveis ou com manifestações clínicas vagas tem trazido à tona uma situação denominada por alguns de “Síndrome do Anticorpo Antinúcleo Idiopático” (ou Síndrome FAN positivo). A perda de especificidade do teste agravou-se também pelo fato de que uma vasta gama de especialistas médicos passou a utilizá-lo. Inicialmente, os reumatologistas e nefrologistas eram os grandes usuários desse exame e, em decorrência de sua familiaridade com o mesmo e das características de sua clientela, tinham maior chance de solicitar o exame a quem realmente tivesse quadro autoimune. Hoje, o FAN é um exame solicitado com menos critério por grande variedade de especialistas, que obviamente atendem uma clientela distinta, na qual o diagnóstico de doença reumática autoimune é menos prevalente. Assim, a chance de resultados positivos em indivíduos saudáveis ou com apresentações clínicas pouco expressivas tornou-se maior... o exame deve ser solicitado apenas quando houver suspeita convincente de doença autoimune. Sua solicitação frente a um paciente com queixas vagas, frequentemente trará mais confusão ao raciocínio clínico, visto que um resultado positivo não implica necessariamente autoimunidade... Outro ponto a se considerar é que o nível de autoimunidade fisiológica, ou basal, pode flutuar na dependência de sobrecargas a que o sistema imunológico seja exposto. Está bem demonstrada a presença de autoanticorpos desencadeada transitoriamente por infecções, por medicamentos e por neoplasias (tumores).  Portanto, outra consideração a ser feita ante um paciente com um achado positivo de FAN refere-se à possibilidade de infecções virais recentes, uso de medicamentos e processos neoplásicos... Perante um resultado positivo de FAN é imprescindível que se caracterize essa reatividade... Essa avaliação deve ser subsidiada por evidência clínica ou laboratorial de doença autoimune sistêmica. Além do exame clínico apurado, é importante verificar possíveis alterações em hemograma, urina, proteína C-reativa e velocidade de hemossedimentação (VHS), que podem ser considerados extensões do exame clínico... Sintomas vagos, como artralgia (dor articular) e astenia (sensação de diminuição de força), com exames laboratoriais gerais normais não são suficientes para oferecer subsídio para um achado laboratorial de FAN... Nesses casos, o exercício do bom senso com o acompanhamento da situação clínica do paciente em consultas regulares pode ser a melhor conduta.


Resumindo, a presença de FAN positivo sem outros achados clínicos específicos não significa ter uma doença reumatológica, e o Consenso acima citado é justamente para nos auxiliar na interpretação desse exame. Mas antes de tudo é preciso saber quando solicitá-lo (e quando não solicitá-lo).

sábado, 3 de dezembro de 2011

Novos Critérios para Artrite Reumatóide

Quando atendemos um paciente com poliartrite (inflamação articular em várias articulações), a primeira pergunta que nos fazemos é sempre a mesma: será um caso de Artrite Reumatóide (AR)? Esse desafio existe porque muitas doenças podem manifestar-se com poliartrite, e como em outras doenças reumatológicas,  o diagnóstico da AR é sempre um quebra-cabeças – precisamos juntar várias peças para que a doença mostre a sua “cara”. Algumas vezes, para angústia do paciente (e também do médico), apenas o tempo é capaz de solucionar o problema, pois essas doenças podem demorar para serem “desmascaradas”. Uma vez iniciado o tratamento, consequentemente outro desafio se estabelece: o paciente está realmente em remissão? Felizmente progredimos muito nos últimos anos, tanto no diagnóstico quanto no tratamento. No ano passado (2010) foram estabelecidos novos critérios para diagnóstico e remissão da AR, em comum acordo das duas maiores entidades mundiais no assunto: o American College of Rheumatology (ACR) e a European League Against Rheumatism (EULAR). Cada vez mais convencidos da aplicabilidade dos novos critérios, como mostrado na Reunião Científica do ACR 2011, em Chicago, nós reumatologistas podemos não só diagnosticar mais precocemente, como também tratar mais rapidamente nossos pacientes, evitando-se as temidas sequelas articulares. O uso dos critérios de remissão, com o auxílio em espacial do escore de atividade da doença (DAS28), nos permite estratificar pacientes mais graves (que necessitam de tratamento mais intensivo), daqueles com doença mais leve, fazendo com que o tratamento medicamentoso seja mais racional e o risco/benefício do tratamento otimizado, nos permitindo os melhores resultados terapêuticos.

domingo, 13 de novembro de 2011

Dor em todo o corpo...

Referida pelos pacientes como uma “dor que caminha pelo corpo", a Fibromialgia é a principal causa de dor crônica difusa. Piora após esforço físico e ao final do dia, geralmente atrapalhando o sono. Em função disso, o corpo e a mente não descansam, os músculos ficam tensos e a cabeça começa a dar sinais de cansaço: ansiedade, desânimo, falhas na memória! Outros sintomas geralmente associados são distúrbios na articulação da mandíbula (ATM), refluxo e queimação estomacal, alterações no funcionamento intestinal; amortecimento nas mãos, etc. Esse quadro acomete  aproximadamente 4% da população, predominando em mulheres que não fazem atividade física de maneira adequada. O diagnóstico é feito com a história clínica e o exame físico; os exames laboratoriais são para afastar outras doenças. A medida mais importante para a melhora da dor é realizar exercícios aeróbicos; os medicamentos são para que o paciente consiga fazê-los. Devem ser iniciados de maneira leve, com aumentos graduais, até atingir pelo menos 30 minutos por dia. E o quê causa a Fibromialgia? Como na maioria das doenças, é necessário uma predisposição genética, além de algum stress físico ou emocional desencadeante.  A Fibromialgia não causa deformidades, nem paralisias – como muitos temem – mas atrapalha muito o cotidiano, tanto no trabalho como na âmbito familiar. Já não bastasse tudo isso, os pacientes ainda sofrem com o preconceito de pessoas que não acreditam no que dizem. Eles não tem culpa! Devem ser avaliados e tratados adequadamente, e o apoio de familiares e amigos é essencial.
 

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Se “reumatismo” em si não é uma doença, como desmistificar esse conceito?

A palavra “reumatismo” foi criada há muito tempo, quando imaginava-se que as dores no corpo eram causadas por um desequilíbrio dos “líquidos corporais”. Hoje em dia conhecemos melhor as diversas condições que causam dores no corpo, mas infelizmente o termo “reumatismo” continua sendo utilizado como se fosse uma doença específica. Existe uma campanha da Sociedade Brasileira de Reumatologia tentando esclarecer o termo “reumatismo”, que pode abranger mais de 100 tipos de doenças. Na minha opinião, a melhor forma de desmistificar o termo é orientar a população e até mesmo os médicos em relação aos diferentes tipos de doenças reumatológicas, seus significados e tratamentos.

Quais os principais sintomas dos problemas reumatológicos?

De uma maneira geral, as doenças reumatológicas causam DOR nas articulações, nos músculos, nos ossos, nos tendões, etc. E é esse o principal sintoma abordado em uma consulta com o reumatologista. Dependendo do local (mão, joelho, costas, ombro), das características da dor, tempo de evolução, fatores de melhora ou piora, é que conseguimos direcionar para o diagnóstico de determinada doença. Inchaço articular é um importante sinal que deve ser examinado pelo reumatologista, pois com o exame físico muitas vezes diferenciamos entre patologias intra ou extra-articulares. Infelizmente essas doenças podem facilmente ser confundidas entre si. Dor nas juntas, como nos punhos, por exemplo, pode ser uma simples tendinite, ou uma manifestação inicial de uma doença potencialmente mais grave, como a artrite reumatóide.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

"Reumatismo" no sangue?

Esse é mais um termo utilizado inadequadamente e não corresponde a uma doença específica. Como alguns anticorpos podem ser dosados em exames de sangue, sua positividade levou ao mito “reumatismo no sangue”. Antes de tudo, um diagnóstico reumatológico é baseado em sintomas e sinais clínicos. Os exames complementares, como o próprio nome diz, são COMPLEMENTARES e podem ser úteis para confirmar uma suspeita clínica – não devem ser solicitados sem a devida indicação. Recebemos com frequência pacientes angustiados devido exames positivos(ex: fator reumatóide, FAN, ASLO), mas sem sinais e sintomas de doença autoimune – são exames frequentemente positivos em pessoas saudáveis. Nesses casos, resta ao reumatologista uma avaliação clínica completa desses pacientes e assegurá-los da ausência de doença autoimune, sempre ficando de portas abertas para uma nova avaliação caso apresente novas queixas.

Frio causa "reumatismo" ?

Existe um mito que diz que o “frio causa reumatismo”. Na verdade, algumas doenças reumatológicas podem piorar no frio, como é o caso de Artrite Reumatóide e mesmo da Fibromialgia, pois as pessoas acabam tendo mais contraturas musculares e, consequentemente, mais dor. Mas o frio não causa nem predispõe a doenças autoimunes. Para dificultar, existe uma doença chamada Eritema Pérnio, que funciona como uma “alergia ao frio”, causando inchaço e dor principalmente em dedos das mãos e pés, que melhora espontaneamente com o aquecimento do clima/tempo. É um problema freqüente, que tende a repetir-se ano-a-ano no inverno, algumas vezes confundido com artrite, mas que não deixa seqüelas.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Anti-inflamatórios e seus riscos...

Os conhecidos anti-inflamatórios estão entre as drogas mais usadas com ou sem prescrição médica - e dificilmente alguém nunca tenha usado para melhorar de uma dor-de-cabeça, cólica ou dor muscular. Infelizmente alguns riscos devem ser alertados. Entre seus efeitos colaterais, os gastrointestinais são os mais conhecidos, como náusea, gastrite, úlcera péptica. Não raras são as manifestações cutâneas, como equimose (sangramento subcutâneo), urticária, e até choque anafilático. Os rins não passam desapercebidos, podendo sofrer com nefrite e diminuição da filtração glomerular - sendo os pacientes renais crônicos e os idosos os de maior risco. Não podemos esquecer dos problemas associados com o fígado: hepatite medicamentosa e casos de falência hepática fulminante. Já não bastasse, alteração da coagulação (aumento de risco de sangramento) e efeitos pró-trombóticos também são relacionados com essas famosas - e indispensáveis - medicações. Recentemente alguns anti-inflamatórios de última geração (ditos inibidores COX2) foram retirados do mercado devido aumento do risco cardiovascular, principalmente de Infarto do miocárdio. Chamo a atenção para um artigo publicado em maio de 2011, em uma das principais revistas internacionais de Cardiologia, Circulation, onde mais de 80.000 pacientes com Infarto foram avaliados, e os anti-inflamatórios foram associados à maior risco de morte e reinfarto. Os autores sugerem que essas medicações não devam ser prescritas para pacientes com história prévia de Infarto, mesmo que por breve período de tempo. Em suma, antes de usá-los devemos avaliar riscos e benefícios, e se realmente necessários, que seja pelo menor tempo possível. São medicações importantes, mas seus possíveis danos não podem ser banalizados! Futuramente deixarão de ser remédios de fácil aquisição nos balcões das farmácias e receitas de controle especial serão obrigatórias (como ocorreu com os antibióticos), aumentando a responsabilidade de quem prescreve, de quem vende e também de quem compra!
  
  

sábado, 9 de julho de 2011

Metotrexato nas Doenças Reumatológicas

O Metotrexato (MTX) é atualmente a droga mais utilizada no tratamento da artrite reumatóide (AR). A droga foi sintetizada em 1948, inicialmente para o tratamento de malignidades, e os primeiros testes para tratar pacientes com psoríase e AR foram publicados em 1951. No entanto, até a década de 1980, o uso do MTX no tratamento da AR foi escasso. A partir de 1990 o MTX tornou-se a droga modificadora de doença reumática (DMARD) de primeira escolha para o tratamento da AR. Por definição, DMARDs são aquelas medicações que inibem a progressão radiográfica da doença, ou seja, evitam as erosões (destruição) e sequelas articulares. Várias combinações de DMARDs foram testadas, mais comumente com o MTX como a droga âncora. Em relação à via de administração, há evidência de que a via subcutânea tem algumas vantagens sobre a via oral - maior biodisponibilidade com menos efeitos colaterais (apesar das bulas desatualizadas, indicando apenas via intramuscular e endovenosa), devendo ser usada uma única vez por semana - em monoterapia, doses até 30 mg/semana podem ser utilizadas. Desde que alguns colaterais podem ocorrer pela deficiência de folato, 5mg de ácido fólico devem ser administrados 24h após a ingesta do MTX, para que assim, não interfira com sua absorção. Em relação à eficácia clínica, o MTX mostrou-se quase similar à monoterapia biológica e a combinação de MTX com os biológicos mostrou-se superior a qualquer medicamento isolado. Entre os medicamentos usados cronicamente em reumatologia, o metotrexato mostrou ser dos mais seguros e bem tolerados a longo prazo - desde que monitoramento laboratorial e acompanhamento médico sejam realizados regularmente. Devido que a indústria farmacêutica pouco ganha com o MTX, muitos pacientes encontram dificuldades de encontrá-lo nas farmácias, mas reforço que ele ainda é o centro de todas as estratégias terapêuticas para a artrite reumatóide entre outras doenças reumáticas (e é disponibilizado pelo SUS). Veja também a reportagem do Fantástico sobre o desinteresse comercial nessa importante medicação e o comentário da SBR.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Ultrassom e o Reumatologista

Nos últimos dez anos, o Ultrassom tornou-se uma importante ferramenta acessória para o trabalho do Reumatologista. Um número crescente de reumatologistas atualmente utiliza esse equipamento no consultório para diagnóstico, monitoramento e intervensão nas diversas doenças articulares e osteomusculares. Com o desenvolvimento tecnológico, hoje dispomos de equipamentos portáteis de alta resolução capazes de visualizar microcristais, indicando por exemplo qual a doença que está acometendo determinada articulação. Além disso, com uma ferramenta chamada Powerdoppler, é possível saber, através da visualização da microvascularização sinovial, se um paciente com artrite ainda tem inflamação articular ou não,  indicando até mesmo se o tratamento deve ser modificado. Sem falar da sua enorme utilidade como um guia nas infiltrações, conseguindo-se alcançar alvos com uma precisão milimétrica. Outros benefícios são a ausência de radiação ou substâncias potencialmente prejudiciais, a realização em tempo real e dinâmica no próprio consultório, o fácil transporte de aparelhos portáteis, a boa aceitação dos pacientes, custo acessível, etc. Aproveito para parabenizar a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) pela iniciativa de trazer pela quarta vez, com a certificação do EULAR, o dream team europeu em ultrassonografia para mais um curso intensivo para reumatologistas, que sertá realizado em agosto/2011 em São Paulo. Até lá...

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Amortecimento nas mãos

Muitas pessoas sofrem com amortecimentos das mãos. Preocupadas que estejam tendo um “Ataque Cardíaco” ou um “Derrame”, algumas acabam sendo atendidas na correria de pronto-atendimentos e submetidas a exames e avaliações desnecessários. Discutirei duas situações distintas. Quando pessoas ansiosas respiram mais rápido em momentos de angústia, esse aumento de freqüência ventilatória pode causar alterações eletrolíticas no sangue e gerar parestesias (amortecimentos) de extremidades e até mesmo contrações musculares involuntárias, chamadas tetanias. Além das mãos, os amortecimentos são também freqüentemente percebidos na boca, causando ainda mais ansiedade e piora do quadro – como num círculo vicioso. Nesse momento é fundamental assegurar o paciente e a família da benignidade do quadro, que pode ser revertido com simples manobras ventilatórias ou com medicações ansiolíticas (que diminuem a ansiedade).
Outra causa muito freqüente de amortecimento nas mãos é a Síndrome do Túnel do Carpo. Ao dormir, a maioria das pessoas faz uma flexão involuntária dos punhos, podendo gerar compressão nervosa justamente neste estreito espaço, chamado Túnel do Carpo. Acordar com as mãos amortecidas, às vezes com sensação de que estão geladas e inchadas assusta! – e a reação é de chacoalhá-las e até colocá-las de baixo d’água. Pode ocorrer durante a gravidez ou associado a doenças como diabetes, hipotireoidismo, fibromialgia; mas na maioria dos casos ocorre isoladamente. Nos quadros leves, a conduta médica é conservadora, como tala noturna e infiltração local. Nos graves e persistentes, diminuição da força e atrofia muscular podem ocorrer, e cirurgia descompressiva deve ser realizada. Mas, antes de tudo, não esquecer que outras possíveis causas de amortecimento nas mãos devem sempre ser afastadas, e que o correto diagnóstico ainda é essencial para o correto tratamento.
  

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Vitamina D na saúde e na doença

A vitamina D é essencial para a mineralização óssea e uma importante arma na prevenção e tratamento de Osteoporose, mas, além disso, pode ter outras funções na saúde e na doença. Citarei abaixo alguns importantes estudos relacionandos aos níveis de Vitamina D:

sábado, 23 de abril de 2011

XXI Jornada Norte-Nordeste de Reumatologia

Tudo pronto para a XXI Jornada Norte-Nordeste de Reumatologia. Conferências, casos comentados, mesas-redondas, simpósios e muito debate de novos conteúdos integram a programação da XXI Jornada Norte-Nordeste de Reumatologia, que será realizada de 12 a 14 de maio, no Hotel Parque dos Coqueiros, e terá como cenário a capital brasileira da qualidade de vida - Aracaju, em Sergipe. A Jornada Norte-Nordeste é um evento oficial da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) que se repete a cada dois anos em um dos Estados da região, sendo intercalada com a Jornada Brasileira de Reumatologia. O público-alvo é fundamentalmente o reumatologista, porém vem se notando a participação de outros especialistas, principalmente aqueles que lidam com doenças ou procedimentos relacionados com afecções reumáticas.
 

quarta-feira, 6 de abril de 2011

O pé nosso de cada dia...

Afinal de contas, quem suporta todos os nossos problemas na correria do dia-a-dia? Vinte e cinco por cento dos adultos sofrem de dor nos pés, sendo a maioria mulheres. E isso não é à toa. Os calçados foram criados para a proteção dos pés! Pinturas em cavernas sugerem que o homem iniciou esse hábito 10 mil anos antes de Cristo. As sandálias dos faraós já se destacavam pelos enfeites de ouro, e desde então os sapatos passaram também a ser um indicativo de classe social. No exemplo do Brasil, os escravos eram proibidos de usar calçados, sendo que os conseguiam apenas ao alcançar a liberdade, quando muitas vezes desfilavam com as “chuteiras” penduradas nos ombros. Mas pra quê toda essa história? Porque foi no pós-guerra que as mulheres saíram às ruas e mudaram suas vestimentas: encurtaram as saias e passaram a expor os pés. E o uso dos saltos-alto nunca mais saiu da moda! Com os mais variados tamanhos e estilos, criando a ilusão de pés menores, pernas longas e glúteos mais definidos, os saltos-alto estão definitivamente ligados à sexualidade e sofisticação, e incorporados às mulheres (estudo americano mostra que 42% delas usam saltos-alto desconfortáveis em prol da estética). Elegância perigosa, pois não é apenas o desconforto momentâneo o problema. O uso desses calçados inevitavelmente gera alteração da marcha e sobrecarga tendínea, muscular e articular, com graves consequências para os pés, joelhos e quadris. A restrição da forma natural dos pés e o aumento do peso em uma região não preparada para tanto, gera deformidades como os calos e a famosa joanete, além de aumentar o risco de entorses, artrose, microfraturas, compressão nervosa, etc. E tratamento para tudo isso? Antes de mais nada, suspender o uso dos sapatos inadequados. Muitas vezes é indicado o uso de palmilhas e calçados individualizados para a correção da biomecânica e de posturas viciadas. Nos casos mais graves, apenas com cirurgia. De qualquer maneira, são opções não muito agradáveis pra quem tanto valoriza a aparência. E por isso, o melhor tratamento ainda é a prevenção. (título em homenagem ao dr Antonio Carlos Novaes)
 

quinta-feira, 10 de março de 2011

Artrite ou Artrose???

Artrite ou Artrose? Frequentemente são palavras utilizadas sem o devido propósito e como se tivessem o mesmo significado. Mas qual a diferença entre elas? Antes de tudo, explico como é uma articulação. Mais popularmente conhecida como “junta”, a articulação é a “dobradiça” entre os ossos. E, para que essa “dobradiça” funcione corretamente, é necessário um lubrificante, chamado líquido sinovial, produzido pela membrana que reveste a articulação. A inflamação nessa membrana é chamada de Artrite, podendo ser causada por infecções, traumas, tumores, doenças autoimunes, etc. Ocorre aumento na quantidade do líquido, causando inchaço e dor articular. As diversas formas de Artrite podem acometer pacientes de qualquer idade e devem ser tratadas de acordo com a sua causa.
Cobrindo as extremidades ósseas que compõem a articulação, existe uma fina cartilagem, chamada cartilagem articular. Artrose refere-se ao desgaste dessa cartilagem, principalmente em mãos, joelhos, coluna e quadris. Ocorre tipicamente a partir dos 40 anos de idade em pessoas geneticamente predispostas; mas pode acometer os jovens se a estrutura articular estiver danificada, por exemplo: traumas e infecções prévias. O medo de causar ainda mais danos articulares leva os pacientes a evitar exercícios físicos, e é essa a principal causa de incapacidade na Artrose! Mas na verdade, os exercícios fortalecem a musculatura e estabilizam as articulações, diminuindo a velocidade do desgaste. Portanto, esse é o verdadeiro inimigo: o medo! – e não os exercícios. E não se esqueça de consultar o seu médico antes de tomar qualquer conduta, pois o fator mais importante para um bom tratamento ainda é o correto diagnóstico.
  

sexta-feira, 4 de março de 2011

Quanto tempo dura uma consulta?

Quanto tempo leva para viajar de Pato Branco a Francisco Beltrão? São aproximadamente 60 km de distância. Se a velocidade média for de 80 km/h, levará 45 minutos. Agora pense numa pessoa que trabalha fazendo frete de uma cidade até outra. Quanto mais rápido fizer o percurso, mais lucro! Que tal fazer esse percurso em 20 minutos? Por mais habilitado que seja como motorista, por melhor que sejam seus reflexos, em algum momento haverá um grave acidente! Nós médicos também temos um “percurso” a percorrer: a Consulta Médica! E, como numa estrada, também fazemos curvas, e às vezes damos grandes freadas.  Todo cuidado é pouco! E muita atenção: imprevistos também acontecem durante um atendimento. O primeiro passo, e o mais importante, é ouvir o paciente! Em seguida, fazer as perguntas certas para obter as informações necessárias. Escolher palavras e gestos. Só então, juntamente com um Exame Físico minucioso, agrupar as pistas para o correto diagnóstico. São esses os passos imprescindíveis do nosso percurso. Não existem atalhos! Mas pra isso precisamos de tempo e conhecimento! Quando necessário, solicitamos exames complementares para confirmar uma hipótese diagnóstica, ou excluir doenças que simulam quadros semelhantes. E os testes apropriados poupam tempo e dinheiro, muitas vezes gastos em exames desnecessários. Em suma: devagar nas curvas e sempre respeitando o limite da velocidade!
   

terça-feira, 16 de novembro de 2010

O que é Reumatismo?

Da mesma maneira quando alguém que tem doença no coração fala que tem cardiopatia, leigos que sofrem de algum problema reumatológico dizem que tem Reumatismo! Portanto, Reumatismo NÃO se refere a uma Doença Reumática específica e não deve ser diagnosticada como tal. Entretanto, para alguns médicos, a queixa de dor nas articulações significa diagnóstico de reumatismo e solicitação de exames, gerando gastos e angústias desnecessários. O Reumatologista, nesses casos, fica encarregado de desfazer muitos diagnósticos e até suspender medicações (ex: Benzetacil), pois muitos desses pacientes não tem evidência de doença, nem precisam ser medicados. Essa tarefa nem sempre é fácil! Alguns pacientes não aceitam, de repente, não mais sofrerem do tal Reumatismo por já incorporarem em seu subconsciente serem portadores dessa "misteriosa doença".
APROFUNDANDO...
Foi no século I que o romano Dioscórides (40-90 dC) criou a palavra reumatismo para dar nome ao que seria o desequilíbrio entre os fluidos corporais. Imaginava-se na época, que esse possível desequilíbrio seria responsável por dores osteomusculares e articulares. Esse conceito não é mais aceito nos dias de hoje, e portanto, deve ser combatido para evitarmos confusões entre os pacientes e também evitarmos possíveis iatrogenias (doenças causadas por atos médicos) de profissionais despreparados ou mal-intencionados.
 
 

Consultar o Reumatologista vale a pena?

Você pode ficar surpreso ao saber que ao consultar com o Reumatologista você pode estar economizando tempo e dinheiro, além de diminuir a gravidade da sua doença...
Explico: o Reumatologista é especialmente treinado para reunir pistas com uma História Médica e Exame Físico adequados! Esses são os elementos mais importantes de um atendimento e, em boa parte das vezes, são suficientes para o correto diagnóstico. E pra isso precisamos de TEMPO e CONHECIMENTO!!! Quando necessário, é baseado nisso que pedimos os Exames Complementares. É assim que são chamados: COMPLEMENTARES!!! Servem para complementar uma hipótese diagnóstica elaborada durante a valiosa Consulta Médica. Devem ser direcionados para confirmar o que já suspeitamos na consulta, ou eventualmente para excluir outras doenças que simulam quadros semelhantes. E os testes apropriados fazem o diagnóstico correto mais precocemente... Poupam tempo e dinheiro, muitas vezes gastos em exames desnecessários. Além disso, as doenças reumáticas respondem melhor quando tratadas precocemente, poupando o paciente de sofrimento e seqüelas quando do atraso terapêutico. Parece óbvio??? Pois é exatamente o oposto que vemos acontecer por aí... Sem generalizar, mas, quando a consulta não é valorizada, alguns profissionais tentam ganhar na quantidade: atendem rápido demais e não conseguem juntar as pistas pro Diagnóstico. (Repito: é preciso de TEMPO!) Acabam por pedir muitos exames desnecessários, que além de onerar o sistema muitas vezes atrapalham o correto diagnóstico. Quanto menos tempo de consulta, mais exames desnecessários...

"Que a Clínica médica seja a torradinha do caviar sabemo-lo bem...
Que os dignitários devam saber que não é de bom tom comê-lo às colheradas é prudente. Cristais, por mais nobres, sempre necessitam ser bem acondicionados para não rachar. O papel da clínica é sempre conjuntivo e imprescindível. E está definhando, em extinção. O motivo? Os prestadores de serviços não pagam o médico para ouvir e escolher palavras, a essência clínica. E não pagam conjunto de ações, só procedimentos.
"
do livro "Jaculatórias - sugestões para o dia a dia do médico" - dr João Manuel Cardoso Martins
  

Quando procurar o Reumatologista?

Se as dores musculoesqueléticas não são muito fortes ou debilitantes e duram apenas alguns dias, é de bom senso deixar que resolva-se sozinho. Mas algumas vezes as dores são muito intensas e/ou persistem por mais do que poucos dias... Nesse momento você deve procurar o seu médico para determinar se precisa de encaminhamento ao reumatologista!
Muitas doenças reumatológicas não são facilmente identificadas no seu início. O Reumatologista é treinado para fazer o trabalho de detetive - necessário para descobrir a causa do problema. Isso é fundamental para que o tratamento apropriado seja iniciado o quanto antes, evitando que prejuízos irreversíveis (seqüelas) aconteçam.

Devo retornar ao Reumatologista?
Algumas doenças reumáticas são complexas... apenas uma visita ao reumatolgista pode não ser suficiente para determinar o diagnóstico e tratamento. Outras doenças são crônicas e frequentemente mudam ou evoluem com o tempo - são casos em que o reumatologista precisa de contato freqüente com seus pacientes para identificar eventuais problemas e elaborar um programa individualizado de tratamento e seguimento.
 

Como o Reumatologista interage com outros Profissionais da Saúde?

A função do Reumatologista no cuidado à Saúde depende de vários fatores e necessidades do ambiente em que trabalha. Tipicamente o Reumatologista trabalha no consultório, atendendo pacientes em conjunto com outros médicos se for necessário... Algumas vezes atua como consultor para orientar outros colegas sobre doenças e tratamentos específicos. Em outras situações, o Reumatologista gerencia um time de Profissionais de Saúde no cuidado conjunto ao paciente - incluindo Enfermeiras, Fisioterapeutas, Terapeutas Ocupasionais, Psicólogos, Assistentes Sociais. Um time como esse é especialmente importante para pacientes com Doenças Crônicas, onde cada um tem papel fundamental: seja na orientação e suporte ao paciente, seja na educação e auxílio a seus familiares para lidarem com as mudanças que a doença causa em suas vidas.
  

O que faz um Reumatologista?

O Reumatolgista é um Clínico com especialização em Reumatolgia, ou seja, experiência no diagnóstico e tratamento de doenças qua causam DOR nas articulações, nos músculos, nos ossos, nos tendões e bursas, além de doenças Inflamatórias e Imunológicas.

Qual a formação do Reumatologista?
Após seis anos de Faculdade de Medicina e dois anos de Residência em Clínica Médica, o Reumatologista dedica-se mais dois anos de treinamento na especialidade de Reumatologia.

Quais doenças o Reumatologista trata?
As doenças reumatológicas causam DOR! Mas antes de tudo, um bom Reumatologista precisa ser um excelente Clínico! Isso significa conhecer muito bem doenças de outras especialidades e saber explicar ao paciente que nem todas as dores no corpo levam a um diagnóstico reumatológico... Só então saberemos diagnosticar e tratar corretamente doenças reumatológicas como Artrites, Artrose, Osteoporose, Fibromialgia, Gota, Lupus, Vasculites, Espondilites, doenças autoimunes; além de doenças ao redor das articulações como dores nas costas, tendinites, bursites, compressões de nervos, etc.